Vestígios da ditadura no município de Ipupiara
O destino de Lamarca começa a ser
traçado em 21 de agosto, quando o guerrilheiro César Bejamim, fugindo de um cerco policial em Ipanema, no Rio de
Janeiro, deixa no carro que ocupava um diário de Lamarca e cartas dele para
Iara, descobertas pela polícia. Cruzando os dados de topografia e vegetação descritos
nelas, junto com informações conseguidas com militantes do MR-8 capturados na
Bahia, os militares identificam a área de Buriti Cristalino como o provável
esconderijo do ex-capitão. Um
dia antes, 20 de agosto, informações extraídas de um guerrilheiro capturado em
Salvador, José Carlos de Souza, permitiram aos agentes localizarem Iara
Iavelberg num apartamento no bairro da Pituba,
na capital. A
mulher de Lamarca é morta a tiros escondida num quarto cheio de gás lacrimogênio, após
a invasão do local pelas forças de segurança. A versão oficial de sua
morte, suicídio, só seria desmentida mais de trinta anos depois,
quando seus restos mortais foram exumados em São Paulo.
De posse das
informações cruzadas, o comandante do DOI-CODI baiano e chefe da 2ª Seção do
Estado-Maior da 6ª Região Militar, major Nílton Cerqueira, monta a operação
para caçar Lamarca, chamada de Pajuçara, em homenagem a uma praia de Maceió.
O efetivo consiste em um total de 215 homens das três forças armadas, mais
policiais federais, do DOPS e da Polícia Militar da Bahia, incluídos 18
homens do Para-Sar.
No dia 28 de
agosto, os homens de Cerqueira invadem Buriti. Um dos irmãos de Zequinha,
Olderico, abre fogo contra a tropa e cai ferido com um tiro no rosto. Outro
irmão, Otoniel, de 20 anos, é morto a rajadas de metralhadora. O professor se
suicida com um tiro na cabeça num quarto da fazenda. O patriarca, José,
um lavrador de
64 anos, não está na casa no momento, mas quando chega começa a ser torturado
junto com o filho ferido. Fica horas apanhando pendurado de cabeça para baixo
pelos homens de Cerqueira e Fleury,
que foi para a Bahia participar da captura.
Os corpos de Lamarca e Zequinha Barreto no chão da base aérea de Salvador após
a morte em Pintada,
interior da Bahia.
Em Buriti, Lamarca e Zequinha escutam
o tiroteio, abandonam o acampamento e saem em marcha pelo sertão, andando nove
quilômetros em uma noite. Seguem pelas montanhas e descem num povoado.
Denunciados, entram novamente na caatinga.
Doente e desnutrido, Lamarca era carregado nas costas por Zequinha. Iam em
direção a Brotas de Macaúbas, alimentando-se de rapadura e
bebendo água dos tanques de gado.
Os dois fugiram por trezentos
quilômetros durante vinte dias até chegarem à localidade de Pintada, um povoado
no meio do nada com apenas cinquenta casas, no distrito de Ibipetum.
Um menino viu os dois homens deitados descansando sob uma baraúna e em pouco tempo a notícia
chegou aos perseguidores. As três horas da tarde de 17 de setembro, os homens
de Cerqueira chegaram ao local e surpreenderam a dupla. Zequinha, ouvindo o
barulho de um galho estalado, avisou o chefe e tentou correr, sendo morto por
uma rajada de metralhadora. Lamarca foi morto com sete tiros quando tentava se
levantar. Um dos tiros atravessou-lhe o coração e
os dois pulmões.
Seu corpo foi pendurado num pau e levado até uma camionete, de onde foi
transportado à Brotas de Macaúbas e de lá para a base aérea de Salvador, onde
os corpos foram fotografados no chão de cimento. Lamarca ainda tinha os olhos
abertos.
Sepultado no Campo Santo de Salvador,
em cova com número mas sem nome, sua morte foi seguida de um comunicado do
diretor da Censura Federal a todos os meios de comunicação, em 22 de setembro
de 1971: "Por determinação do presidente da República, qualquer publicação
sobre Carlos Lamarca fica encerrada a partir da presente, em todo o país.
Esclareço que qualquer referência favorecerá a criação do mito ou deturpação,
propiciando imagem de mártir que prejudicará interesses da segurança nacional.
A prefeitura do município de Ipupiara -
Bahia construiu, na comunidade de Pintada, distrito de Ibipetum,
local onde Lamarca foi morto, uma praça em sua homenagem, a qual contém
uma estátua de
Carlos Lamarca, anfiteatro, playground,
fonte luminosa e cantina. A Praça Capitão Carlos Lamarca foi inaugurada no
dia 13 de janeiro de 2007. O município também
homenageou Lamarca criando uma lei através
da qual acrescenta no calendário dos feriados municipais o dia 17 de setembro.
"Carlos
Lamarca foi um símbolo da resistência radical à ditadura militar.”
(Tarso Genro, ministro da Justiça do
Brasil) (2007-2010).
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