Relatos de Alagoinha Gentio do Ouro Ba
A comunidade de Alagoinha, localizada no município
de Gentio do Ouro Ba, inicialmente era um lugar de poucos habitantes, com
apenas cinco famílias, sendo uma delas, a família da senhora Liberina Maria da
Conceição, nascida e criada na comunidade viveu até os seus 112 anos de idade,
relatava que sua tataravó era descendente de índios tapuias e que a mesma foi pega no mato, laçada como um animal. Segundo
dona Liberina, ela e seus irmãos viveram épocas difíceis, momentos de terror,
época da guerra dos revoltosos, onde tinham que se esconder para não serem
torturados, e esconder também o pouco do que tinham para comer.
A pequena população de Alagoinha passou muita
fome, muitos até morreram por não terem o que comer. Para saciar a fome comiam
batatas de umbu e das palmeiras comiam o palmito, outra forma era o plantio da
mandioca tendo uma fabricação bem precária e sofrida diferente de hoje que os
produtores contam com as mais avançadas tecnologias. Eles utilizavam apenas farinha
com água para matar a fome.
Outro fato importante nesses relatos, era a
falta de água que só era encontrada nas
cacimbas e longe da comunidade, era transportada na cabeça em uma botija de
barro fabricado pelos próprios moradores, bem como as panelas, pratos moringas e potes
para armazenar água para o consumo. Outra dificuldade era a vestimenta, pois
era feito por eles mesmos que filhavam o algodão na roda e no fuso, e assim
fabricavam as roupas e os lençóis para se protegerem do frio.
Logo no inicio da formação da
comunidade as pessoas andavam descalços, depois começaram a fazer suas próprias
sandálias às quais eram feitas de couro ou pneu.

Conforme a descoberta da mina de cristal conhecida
até hoje como (mina preta), foi chegando mais gente na comunidade e segundo
relatos dos mais velhos eram pessoas que vinham fugindo da escravidão à procura
de abrigo e os que ali chegavam relatavam que trabalhavam para os chamados “coronéis”
por um prato de comida ou quarto de rapadura, também meio litro de farinha, isso para cada um sustentar sua
família, trabalhavam uma semana por um “tostão” a moeda da época, sem comer, e
se desrespeitassem as ordens do coronel apanhavam.
Essa mina de cristal foi o que fez com
que as pessoas melhorassem de vida, conseguindo suas próprias terras, fazendo
suas próprias plantações e consequentemente passaram a ter melhores condições
de vida.

Aqui uma mensagem de incentivo do senhor
José morador da comunidade, segundo ele para os mais novos.
“Valorize a comida que tem na mesa;
valorize a família que você tem a roupa que você usa o trabalho que você
conquistou e o mais importante, valorize a vida que Deus lhe deu e jamais se
esqueça de onde você veio”.
A seguir um Cordel feito por uma das
moradoras da comunidade, dona Deraldina Maria de Souza.
Tradição
A tradição de Alagoinha
Como vocês querem saber
É uma tradição bonita
Não podemos esquecer
De geração em geração
Cada dia vai crescer.
A primeira tradição
Com certeza o reisado
Que veio dos mais antigos
Que jamais será esquecido
Cantando o nosso reisado
Do nosso padroeiro falado
Já imagina quem é? O divino são José.
Temos outra tradição
Que veio de geração
Nunca deixamos de fazer
A nossa santa oração
Toda sexta feira santa
Comemos peixe, carne não.
Sexta feira da paixão
É um dia precioso, com a família reunida.
Para um almoço apetitoso
Terminando de almoçar
Como os mais velhos faziam
Curvando os joelhos no chão, fazia uma oração.
Pedindo a Deus proteção.
O que estou falando aqui
Pode crê é pura verdade
Se vocês for lá um dia
Vão que a realidade
Da cultura oferecida
Na nossa comunidade.
Viemos até aqui
Com coragem e vontade
Pedir para vocês,
Com muita necessidade.
Apenas um registro pra nossa comunidade.
Sempre corremos atrás
Para sermos reconhecidos
Que somos mesmos quilombolas
Que viemos de um povo sofrido
Queremos ser todos iguais
Pedindo sempre paz,
Para nosso povo querido.
Há sete anos atrás
Na comunidade
Tivemos reuniões
Com assinaturas em atas
E até mesmo filmados
Mais as autoridades
Deixou-nos abandonados.
Só ficou em um sonho
A pobre comunidade
Esperou por sete anos
Mas só ficou no passado
Esperamos que o gestor
Esteja ao nosso lado
Para que nosso sonho
Se torne realidade.
Aqui estamos juntos
Para seremos reconhecidos
Que somos negros quilombolas
Aquele povo sofrido
Que jamais será esquecido
Pedimos as autoridades
Desse nosso município.
Aqui vou finalizar
Essa nossa tradição
Agradecendo a vocês
De todo meu coração
Esperamos voltar aqui
Com o registro na mão
Deixando o nosso abraço
Para toda população.
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